sábado, 4 de abril de 2009

Primeira Raiz



Ancestral não direi:
antes cesto de tudo,
antes tempo em que mudo:
pêlo,pele,sobretudo.

Ancestral direi:
se memória não fosse mais
( e é tudo)
que o risco na cerâmica quebrada,
o nome dentro da pedra achada,
e o amor, esta breve palavra,
em milagre de nada.

Ancestral , sim,
porque o que passou, passa, passará,
não passa de matiz, matriz, da manhã.
E dúvida ancestral
não é mais que fogo, afago, cinza.
E tudo que penso
pouco mais dura que a escrita,
a da raiz, a da marca do pé na terra,
que mino, rumino,
e que me habita.

Lindolf Bell
In ‘Código das Águas’

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